Um cantinho só meu
pra quando eu quiser ser só eu.


segunda-feira, 15 de junho de 2009

Meus pés se afundam em uma lama negra que sobe devagar e me coloca em uma sombra sem fim. Vai entranhando meus poros, devagarinho, com força de mágoa retorcida que eu finjo que não vejo. Vejo e sinto, e vejo, e sinto. Sinto muito, digo eu na amargura desses meus muitos dias desperdiçados. Mas eu vejo, sinto muito, que eu não merecia tanto desamor. O que eu tinha virou um pó que agora custa a decantar. Tá no ar, parado, fazendo minha respiração menos viva. Uma alergia ao futuro que me consome, como algo que não vai virar realidade. Me lembro dos primeiros dias e desde lá eu achava que não era pra ser. Sentia, não sei se já disse, que tinha prazo de validade. E a vida foi me fazendo acreditar devagarinho e quando eu realmente acreditei, e vivi, e sonhei, ela soprou no meu ouvido direito que eu não acreditasse. Se tivesse soprado no esquerdo talvez eu tivesse corrido a tempo de reverter tamanho descuidado. Mas o direito, ah o direito. Fez meu coração virar pedra e minha cabeça assumiu o controle da minha vida. Os “e se” que já não faziam parte de mim começaram a pipocar e eu virei alguém que duvida novamente. Já não sei se houve amor algum dia. Juro que não sei. Duvido com a força de quem não duvida de muita coisa na vida. Sinto um amor-quase-amor desses que eu também já senti. E talvez por isso eu mesma o reconheça. Um amor desbotado talvez, mas não amor com o meu: forte, reto, direto. Se existe, é sinuoso, duvidoso, escapa.
Não me convidaram a entrar nesse sonho. Foi sonhado sozinho, sem minha ajuda. Boba eu que imaginei que seria convidada. Quase a dona da festa. Não fui. E não serei. Isso eu já aprendi. Só agora eu aprendi. Retratos de gente bem resolvida que não precisa de afago. Nem de consolo. Eu não sei do se trata. Deveria, mas não sei. Só detalhes… Mas outros que te viveram bem menos o sabem. Bem mais que eu. Querida meia amiga, eu lhe digo, e preste atenção no que eu lhe digo, pois eu demorei muito a descobrir e agora te dou de mãos beijadas: saiba você que os sonhos não sonhados acontecem bem mais depressa. E eu, que não tenho carisma e nem dei pro diretor, sou apenas um corpo parado no ar, nas incertezas dos meus sonhos que de tão sonhados parecem que não tem corpo pra virar matéria. Aproveite seus momentos, cara amiga. Isso lhe digo. Desfrute cada detalhe. E se quiser, fique à vontade nesse mundo que era só meu. Mas vê se no the end você me liga e me conta como foi feliz. Assim eu quero, prometo a você. Assim eu quero. Tamanho é o meu amor. Quero-o feliz até longe, se assim a vida quiser. Quero meus sonhos felizes na vida de qualquer outra. Se assim se vida quiser.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Diz pra mim que nunca fingiu um orgasmo, que jamais mentiu sua idade, seu peso, que não pinta o cabelo, que está super feliz, que não pensa mais nele e que lembrou do aniversário, mas estava viajando a negócios. Diz que não conta pros amigos que traçou ela no primeiro encontro, nem que disse pra ela que ligaria no dia seguinte. Eu sei que não é verdade que você gostou da blusa cor de abacate que ganhou do chefe na festa de amigo oculto da empresa, que gosta de lambida na orelha, de fazer sexo oral. Admite que não gosta de comédia romântica, que não se lembra do primeiro encontro e muito menos da roupa que ela estava usando. Que nunca soube quantas tequilas tomou e que foi você quem a beijou. Mente vai. Mas mente com força porque eu sei que você sabe, que eu sei que você sabe, que eu sei que você mente que seu intestino funciona regularmente, que você está satisfeita com seu casamento, que o filho foi desejado, que nunca deu pro chefe, que ama sua sogra, que não vê filme pornô, que nunca se masturbou no chuveiro, que está satisfeita com seu emprego e que nunca teve vontade de matar alguém. Espalha que jamais pensaria em suicídio, que nunca tomou remédio pra emagrecer, que engole mas que tem nojinho daquilo. Mente que nunca beijou mulher, e finge que não se lembra que beijou homem e mulher ao mesmo tempo. Me diz que nunca cheirou cocaína, detesta maconha, jamais colou meleca na parede, nunca fez pum dentro do elevador sozinha, e não foi quem comeu desesperadamente uma lata de sorvete e três caixas de Bis em menos de 43 minutos, no dia em que ele te deu o fora. Duvido que você não tenha comparado seus seios com os dela, o tamanho do dito cujo do atual com o do ex, ou que não tenha reparado na quantidade de celulite que ela carrega na bunda. Mas já falei, que se vai mentir é pra mentir mesmo, sem deixar eu perceber que você tem inveja da sua amiga, que morre de ciúmes dele, que não suporta o hálito cheirando a cigarro que ele insiste em exalar, que adora mocassim com meia. Mente que fico linda quando acordo, que sou sua alma gêmea, sua cara-metade, a mulher da sua vida, a menina dos seus olhos, seu porto-seguro, sua luz no fim do túnel. Mas se vai mentir, mente direitinho.
Faz frio aqui, principalmente sem seu afago quente bem posicionado atrás do que eu sou. Mais de seis horas separam a gente e milhões de quilômetros, pessoas, países e um universo inteiro que não me deixa pensar. Penso e é esse meu mal. Penso demais. Sei que você apaga os rastros, não se faz entender e meu joelho dói. Dizem os especialistas que joelho indica estima. Não duvido que a minha esteja abalada. Não deveria, eu sei que não deveria. Mas é esse outro meu ponto fraco. São vários, deixe que te avise, antes que acredite no que dizem de mim aí fora. Que sou perfeita. Todos mentem, menos eu. Sou possessiva, louca varrida, covarde e não gosto de escovar os dentes. Meu joelho dói, minha cabeça dói, meu corpo todo dói e meu coração não entende bulhufas do que se passa aqui dentro de mim. E eu continuo sem sono, é melhor que te avise. E quando começar a falar besteiras é porque sei que está na hora de dormir. Se eu não desconfiar just let me know, ok? Odeio ser a última a saber. Odeio também não ser boa em alguma coisa. Queria nascer sabendo tudo. Ou poder configurar programas, simples assim. Odeio não saber fazer minhas próprias unhas. Pronto: já comecei a falar besteiras e você, nem ninguém, me avisou. E pra ser sincera não sinto que você vá me avisar alguma coisa algum dia. Que vai me dizer a verdade. Não vai. Vai me pegar de surpresa. Eu sei, eu sinto e não é mais um ataque de quem se sente perseguido. Aliás tem um nome pra isso que eu acho que eu tenho... God'dammit! Eu odeio saber que vou ser surpreendida!